Sala de Ensaios C1

Voltei para a sala de ensaios e fechei a porta. Ali estava só, já podia descarregar. E era assim que eu estava bem, sozinha. Talvez ele nem sequer gostasse assim tanto de mim, talvez eu também não merecesse esse sentimento vindo dele.
Sentei-me a um cantinho da sala, encolhida e de cabeça escondida nos braços, afundada nos meus joelhos. E chorei baixinho.

Segui-a até ali mas parei à porta que estava fechada. Bati suavemente na mesma
- Jaymelin? Posso?

Limpei a cara. Não. Ele não me ia ver chorar. Não por causa dele. Não de novo. Eu estava farta que ele me visse assim.
- Que é?
Perguntei, num tom meio ríspido, olhando a porta depois de levantar a cabeça.

Olhei para a porta quando ouvi a sua voz e depois murmurei baixinho:
- Só quero falar contigo.

- O que é que queres?
Perguntei, a olhar para os joelhos. Será que eu estava a ser injusta?

- Perceber porque é que saíste a correr do quarto.
Perceber porque é que ela estava assim comigo... Eu não tinha culpa que a June gostasse de entrar em momentos inoportunos...

- Para... Te deixar resolver as coisas com...
So o dizer a palavra doia...
- Com a tua namorada.

Sem querer ri e acrescentei logo:
- Eu estava mesmo a falar a sério quando disse que a June era minha irmã.

Ate podia ser verdade o que ele estava a dizer mas... So o facto de ele se ter rido de mim me magoou. Eu era assim tao estupida, era assim tao estapafurdio ter pensado que ele estava com outra, que podia preferir outra em vez de mim?
Voltei a esconder a cabexa nos braxos, sem conseguir conter o choro.

- Vou entrar.
Sem dizer mais nada rodei a maçaneta da porta. Não suportava ouvi-la chorar. Entrei na sala onde tínhamos estado há minutos e parei em frente a ela.

Nao disse nada. Sabia que ele estava ali, a meros metros de mim mas mantive me quieta e calada, deixando que se ouvissem apenas os meus soluxos. Essa era a unica coisa que eu nao conseguia controlar.

Ajoelhei-me e toquei os seus cabelos, tirando-os da frente da sua cara.
- A June é minha irmã, irmã gémea, aliás. A única pessoa com quem eu tenho alguma coisa és tu.

Baixei a cabexa. Seria possivel que aquilo era mesmo verdade e eu era estupida ao ponto de pensar que...? Mas... Era normal eu estar insegura nao era?

- Estou a falar a sério, Jaymie.
Voltei a levantar-me e olhei para ela, esperando uma reacção da sua parte.

Entao ele... Era verdade? Ele era so irmao dela? Eu estava enganada? Como eh que eu tinha sido capaz de ser tao estupida? Como eh que eu fora capaz de pensar que ele...?
Que idiota, Jaymie!
Tapei a cabexa com os braxos e deixei me chorar de novo.

Sentei-me a seu lado e passei um braço pelos seus ombros, puxando a sua cabeça contra o meu ombro, de forma delicada.
- Não chores.

Abracei-o. Não conseguia parar de soluçar, só queria desaparecer, fingir que tinha tudo sido um pesadelo e nunca tinha desconfiado dele. Ele não o merecia. Não me merecia. Eu era mesmo uma idiota chapada!
- Desculpa...

Dei-lhe um beijo na testa e disse com um sorriso:
- Não tens de pedir desculpa.

Abracei mais o seu peito.
- Sou uma idiota chapada. Amo-te tanto...

Respirei fundo e puxei o seu corpo leve para o meu colo, aninhando-a nos meus braços com todo o cuidado.
- Tu não és uma idiota chapada, eu... eu gosto muito de ti - disse-lhe, olhando o chão à nossa frente.

Levantei a cara para o encarar, olhando nos seus olhos.
- Juras? Gostas mesmo?

Parecia-me incrível que ela não acreditasse que eu gostava mesmo dela.
- Eu... Bem, se eu não gostasse não estaria aqui - falei sem afastar os meus olhos dos seus.

Abracei-me ao seu pescoço.
- Amo-te...
Disse baixinho ao seu ouvido.

Beijei os seus lábios com suavidade e deixei-me ficar com a testa colada à sua durante alguns segundos, olhando-a com atenção, tentando arrancar-lhe um sorriso dos lábios.