Sala de Ensaios C1

- Vão exceder as minhas expectativas - disse olhando o palco atento.
Se as salas de ensaios já cediam as minhas expectativas... As aulas também iam exceder.

Voltei a olhar para ela sem saber bem o que perguntar e voltei a sorrir-lhe quando vi que sorria. Ela tinha um sorriso bonito. Bem, ela era bonita. Não penses nessas coisas, Heath. Ainda vais acabar por dizer em voz alta e vai ser humilhante!
- Ias ensaiar? - perguntei.
Não, veio só ver a sala...

- Ah, boa - disse, sentando-me numa das cadeiras, pronto para a observar.
Se calhar ela queria estar sozinha e não queria dizer... Mas não me apetecia voltar para o dormitório nem para o corredor com aquelas portas todas e ficar ali a andar sem saber para onde ir.

OH MEU DEUS ELE QUERIA FICAR A ASSISTIR?! Eu ia morrer de vergonha!
Tentei lembrar-me de uma pexa, de um excerto, uma fala qualquer. Mas so gaguejei e nada me saia...
Que lindo, Jaymie, ele devia estar a achar-te uma falhada isso sim.

- Se calhar preferes ensaiar sozinha - disse com uma careta arrependida, por me ter armado em convidado.
Porque é que não pensas antes de agir, Heath?!

- N...ao eh isso, eh so que... Eu... Acho que tive uma especie de... Branca.
Uau, essa era uma bela desculpa, de facto.
Eu nao queria que ele fosse embora, queria que ele ficasse.

- Se preferires podemos fazer outra coisa - disse-lhe com um sorriso.
Não queria obrigá-la a fazer nada que ela não quisesse, só não queria estar sozinho, ou mal acompanhado. Até gostava da companhia dela.

- Bem, podemos... olhei em volta - podemos ir ver o que a sala tem. Aderexos e essas coisas...
Sim, ate seria capaz de ser divertido.

- Claro - disse levantando-me da cadeira.
Adorava experimentar chapéus e essas coisas assim...

Fui abrir o primeiro dos armarios la ao fundo e tirei um fato de um cabide.
- Este deve ficar-te bem...
So depois de olhar bem percebi que... Uau... Era um fato de Hamlet.

Peguei no fato que ela tinha dito que havia de me ficar bem e reconheci-o como sendo um fato de Hamlet.
- Não vais vestir nenhum? - perguntei, enquanto encostava o fato ao corpo e me imaginava nele.

- Aa... Todos os fatos que haviam naquele canto eram da pexa do "Principe da Dinamarca", por isso tinha ah escolha o fato da Rainha ou de Ophelia. Olhei meio indecisa para eles, ponderando no que fazer. Ophelia nao me parecia uma boa opxao mas... Apenas por ser a amada de Hamlet.

Fiquei a olhar para ela, enquanto tentava escolher os fatos. Não duvidei que ficasse bem com ambos.
- Queres que eu escolha? - perguntei com um riso.

- Aa... Eu... Se quiseres...
Sim, seria melhor deixar a escolha ao criterio dele.

Pousei o fato que ia vestir e peguei em ambos os fatos que ela estava a observar. Encostei-os ligeiramente ao seu corpo e pus-me ali a avaliar qual dos dois lhe ficaria melhor. Bom, de facto o de Ophelia parecia ficar-lhe melhor que o outro.
- Acho que este te vai ficar melhor. Mas podes trocar depois. A escolha é tua - disse com um encolher de ombros.
Cocei a nuca, meio nervoso. Depois de lhe passar ambos os vestidos.

Acenei apenas com a cabexa, rezando a todos os santos que ele tivesse escolhido aquele vestido ao calhas e que nem soubesse a que pexa pertencia. Os meus olhos vaguearam pelo local, procurando um biombo atras do qual eu me pudesse trocar. Faze-lo ah frente dele... Bem, so de pensar nisso, arrepiava-me, ficava com pele de galinha e sentia calafrios pelo corpo. Uma sensaxao deveras estranha...
Vi um biombo velho e desmontado ao fundo da sala e caminhei na sua direccao, montando-o com alguma dificuldade. Nao havia duvidas de que eu era um desastre quando as coisas me apanhavam de surpresa.

- Espera, eu ajudo-te Jaymelin - disse, antes que ela deixasse cair aquilo tudo.
Peguei numa das partes do biombo e fiz com que as dobradiças dessa parte encaixassem nas dobradiças da parte que ela segurava.
Mantive-me atento, não fosse aquilo cair tudo para cima de nós.

- Consegues encaixar essa parte? - perguntei, segurando bem a parte do biombo que já estava montada, para lhe facilitar o trabalho.
Quando levantei o olhar para o dela e vi que me olhava sorri-lhe suavemente.

Quando larguei o biombo ele já permanecia de pé e já lhe podia dar privacidade.
- Vou vestir-me ali, fica aí à vontade - disse apontando um canto ao pé do sítio dos cabides, onde tínhamos encontrado os fatos, não fosse ela pensar que eu ainda ia espreitar pelo biombo ou assim.
Peguei no fato que ia vestir e dirigi-me para lá.