Sala de Ensaios C1

- Eu... Eu amo-te...
Tinha noção que podia estar a fazer uma asneira tremenda. Dizer-lhe aquilo daquela forma era tudo menos racional. Mas... Alguém disse, alguma vez, que o amor é racional?
Desde que eu vira aquela cara, aos meus 5 anos, nunca conseguira esquecer. Sempre sonhara com ela, sempre procurara por ela. Agora, tinha-a encontrado. E mesmo que o dono dessa cara não me desse a mínima bola eu não podia ir contra os meus sentimentos. Não mais.

Nunca ninguém me tinha dito aquilo... Quer dizer a minha mãe já me tinha dito e também me tinha apertado as bochechas a seguir, mas supus que fossem amores diferentes, porque não estava a ver a Jaymie a apertar-me as bochechas.
Não sabia o que raio lhe havia de dizer, senti-me incapaz de dizer fosse o que fosse, a minha boca não se mexia. Mas não podia deixar que a minha reacção a magoasse e a deixasse a pensar outra coisa completamente diferente do que me ia na cabeça. Ela tinha de perceber que eu não achava aquilo ridículo.
Tirei uma madeixa da frente dos seus olhos e prendi-lha atrás da orelha, num impulso que não consegui controlar.
Tinha acabado de a conhecer, isto era tudo uma loucura, mas nunca ninguém disse que as loucuras não existem. Além disso, eu sentia que ela me conhecia desde sempre... Porque nunca antes eu tinha visto alguém como a via a ela. Tinha medo de dizer ou fazer alguma coisa de que me viesse a arrepender, porque ela podia perceber mal as minhas palavras e eu não a queria deixar magoada. Subitamente ela parecia-me tão frágil... Senti uma necessidade louca de ficar perto dela, para a poder defender de qualquer coisa que ameaçasse magoá-la. Era... era tão estranho eu sentir aquilo.
- Mesmo passado todos estes anos? Desde que encontraste a fotografia? - perguntei ainda sem conseguir compreender muito bem aquele seu sentimento, embora não duvidasse das suas palavras de maneira alguma. Parecia tão sincera.

Acenei só. Eu sabia, estava a fazer asneira. Da minha decisão só saíra um tremendo disparate, isso sim. Mas eu queria tanto que ele sentisse o mesmo que não tinha conseguido segurar as palavras fechadas a sete chaves no sítio onde elas haviam permanecido ao longo de todo aquele tempo, no meu peito. Só que... No fundo, eu sabia que era impossível que ele sentisse o mesmo.
Como se ele fosse estúpido ao ponto de se apaixonar por ti dessa maneira. Acorda Jaymelin!

- Tens vergonha? De me amares? - perguntei, ao ver que ela não falava e que parecia nem sequer querer falar.
Bom, agora que sabia quem era o rapaz daquela fotografia era natural que aquilo perdesse a magia toda, eu não era propriamente o rapaz ideal de ninguém.

- Não. Eu só...
... Só queria ouvir-te dizer o mesmo, era o que eu tinha vontade de dizer. Mas não o fiz. Limitei-me a ficar calada. De novo.

- Só o quê? Eu... eu quero saber, podes dizer-me o que quiseres - balbuciei, com um sorriso e com as bochechas a ficarem rosadas.

- Só... Só queria... Queria que dissesses o mesmo...
Apesar de ter falado mais baixo do que planeava, consegui dizê-lo. Doía dizê-lo. Magoava. Era suposto eu estar a dizer aquelas coisas? Não devia ser ele a fazê-lo se as sentisse? Então, o que raio fazia eu? Estava a implorar? A rastejar aos pés dele, implorando-lhe que gostasse de mim da mesma forma?

Com as duas mãos pousadas na sua cintura, puxei-a calmamente para mim.
- Eu... bem, para falar a verdade eu nunca senti isso, nem sei identificar esse sentimento. Não tenho jeito para estas coisas, nem sei se posso vir a ter. Mas gostava de tentar - disse acariciando o seu cabelo vagarosamente, passando os meus dedos pelo mesmo, deixando as palavras saírem-me naturalmente, sem as impedir.

Acenei apenas, sem dizer nada, virando os olhos para o chão.
Ele nunca ia dizê-lo. Nunca. Eu só estava a fazer figura de otária.

- Jaymie? - chamei-a, sabendo que ouvia mas que provavelmente nem sequer estaria a perceber patavina do que eu estava a dizer. Bem, eu estava a tropeçar nas palavras, por isso... - Eu... eu gostava de tentar, estás a ouvir? Gostava de estar contigo - falei, sendo mais directo.

- Estás mesmo a falar a sério?
Olhei nos seus olhos, perto dele o suficiente para lhe sentir o hálito saboroso a menta. Só queria que ele fosse sincero comigo. Nada mais. Mesmo que fosse para me mandar dar uma senhora curva.

- Estou, não ia brincar com estas coisas, Jaymelin. Eu juro que nunca falei tão a sério - disse, engolindo em seco, ao ver que ela não acreditava no que eu estava a dizer.
Mas eu estava a ser muito sincero com ela, eu queria tentar perceber o que era amar com ela. Ela... ela era fantástica. Ela amava-me. Não havia ninguém mais ideal, não havia mais ninguém com quem eu quisesse tentar alguma coisa.

Continuei a olhá-lo, sem dizer nada. Passei a língua pelos lábios e corei quase logo de seguida quando me apercebi que estava de olhos fixos na sua boca.

Desta vez eu nem sequer esperei que ela fechasse os olhos ou que se aproximasse mais. Eu próprio puxei o seu corpo se encontro ao meu e juntei os nossos lábios mais uma vez, para poder sentir novamente o seu hálito misturar-se com o meu. Pus uma mão na sua face e outra na sua cintura, enquanto movia os meus lábios lentamente sobre os dela.

Ele... Tinha-me beijado. Tinha sido ele a tomar essa iniciativa.
Abracei-o pelo pescoço, correspondendo de imediato. Cada movimento das nossas bocas uma na outra me dava arrepios na pele, como se de repente uma corrente de ar tivesse entrado pelo estúdio onde estávamos, fazendo-me sentir gelada. O que só me dava vontade de o abraçar mais para poder alongar aquele beijo.

Os nossos lábios tinham-se tornado mais urgentes, movendo-se juntos.
Peguei-a ao colo, pelas pernas, sem largar os seus lábios. Talvez estivesse a entusiasmar-me demais, mas, se ela não quisesse que eu a pegasse ao colo havia de dizer, não?

Continuei a beijá-lo. Quando ele me puxou para o seu colo eu... Nem sei... Só tive vontade que não parássemos com aqueles beijos nunca mais.
Mas não podíamos estar assim. Não ali. E se alguém aparecesse? Eu morreria de vergonha se me apanhassem assim com um rapaz, aos beijos. Mesmo que... Eu estivesse perdidamente apaixonada por ele.
- Heath, espera...
Não conseguia separar-me daquela boca e suave e tão atractiva dele. Mantive apenas a testa encostada à sua, tentando que ele percebesse que não o queria afastar. Apenas... Tinha medo que alguém nos visse naquele estado.

Pousei-a com cuidado no chão mas as minhas mãos não largaram a sua cintura e continuaram a agarrá-la firmemente, mantendo-a junto a mim.
- Desculpa, acho que me entusiasmei demais - disse, mordendo o lábio numa careta como quem pede desculpa.

Sorri, deixando-me estar só assim.
- Não. Só... Pensei que... Podíamos ir para outro lado. Que achas?
Procurei os lábios dele de novo, beijando-o.

Sorri e deixei-me descontrair, beijando-a por breves momentos, de forma lenta. Quando os meus lábios largaram os dela, soltei um suspiro quase silencioso e murmurei:
- Eu vou contigo a todo o lado - disse, sem pensar muito bem nas palavras, dizendo o que me passava pela cabeça naquele momento.

Sorri-lhe de novo.
- Queres vir... Conhecer... O meu quarto?
Esperava que ela não levasse aquela pergunta a mal. Mas o que raio iria ele pensar de mim? Que burra, não devia ter perguntado aquilo!
Boa, Jaymie, muito subtil, sem dúvida!
Corei de imediato, deixando os meus olhos fixarem-se no chão.

Tirei uma mão da sua cintura, apenas para lhe segurar o queixo e para a fazer olhar-me nos olhos. Enrolei mais o outro braço à volta da tua cintura.
- Claro que quero conhecer o teu quarto, quer dizer, não tenho segundas intenções, a sério, mas lá estamos melhor - disse com um sorriso doce ao ver que as suas bochechas voltavam a ficar rosadas.

Olhei-o fixamente.
- Vamos então?
Perguntei com um suspiro.

- Vamos - disse e com a mão que tinha pousada na sua cintura procurei a sua mão, agarrando-a reticente.
Bom, achei que não havia mal, em dar-lhe a mão.

Sorri quando senti a mão dele na minha e puxei-o para fora da Sala de Ensaios comigo.

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